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Inovação Aberta e Investimentos

Claudio Cardoso | novembro 2021

Além de enaltecer o empreendedor como ator central do sistema econômico, Joseph Shumpeter foi o primeiro teórico da economia a trazer a inovação para o palco das dinâmicas competitivas. Ele lançou a expressão destruição criativa em 1942, exatamente para se referir ao modo como produtos e métodos capitalistas inovadores sempre acabariam por tomar o lugar dos antigos e estabelecer novas dinâmicas econômicas (McGraw, 2012: 15).

O tema da inovação somente assumiu o estrelato bem mais recentemente, especialmente após o frenético surgimento de empresas altamente inovadoras, em uma nova era que passou a combinar tecnologia digital com internet, e ciclos cada vez mais curtos das hegemonias tecnológicas. Isso, de forma simultânea à criação de novos conceitos como inovação disruptiva, este lançado por Clayton Christensen, em 1995 na Harvard Business Review, e aprimorado em 1997, no livro O Dilema da Inovação.

Desde meados dos anos 1990, a grande quantidade de pequenas empresas inovadoras baseadas em tecnologia que cresceram em ritmos espantosos provocaram, dentre outros efeitos nas sociedades de todo o mundo um significativo aumento na oferta de capital de risco. E o consequente processo de estruturação e amadurecimento desse mercado de capitais.

Entretanto, o impacto das startups não se limitou ao aperfeiçoamento do venture capital. Elas também provocaram as organizações que já existiam desde antes dessa nova era a consumirem produtos e serviços das pequenas empresas emergentes. Além disso, empresas tradicionais passaram a assimilar novas lógicas de produção que incluem maior incerteza, mais tolerância ao erro e à experimentação, mais velocidade e maiores riscos, tudo isso na expectativa de obterem melhor capacidade para inovar e se manterem competitivas.

Inovação Aberta e Corporate Venture Capital

Segundo o criador do termo, Henry Chesbrough (2011), a inovação aberta resulta do uso de novos conhecimentos para acelerar a inovação interna, desde que esta seja orientada a expandir mercados pela aplicação de inovações. Ou seja, as organizações podem obter vantagens competitivas desde que estimuladas a consumir inovação produzida externamente e, ao mesmo tempo, habilitadas para o desenvolvimento de um ambiente interno favorável à criação de inovações.

Ao longo das duas últimas décadas várias abordagens da inovação aberta foram adotadas por grandes empresas, com maior ou menor sucesso. Um dos modelos mais vigorosos em termos de resultados é a inovação aberta com startups. Nesta direção, em geral, as empresas estabelecem programas estruturados para atrair iniciativas do seu interesse, objetivando fundamentalmente, (i) consumir as suas inovações enquanto clientes, (ii) assimilar novas culturas empreendedoras e suas lógicas de produção pelo convívio com os novos empreendedores e seus negócios incipientes, e (iii) identificar eventuais necessidades dos fundadores para aportes de capital, com aquisição de participações naquelas iniciativas mais promissoras em um mecanismo sugestivamente batizado de corporate venture capital.

Além do natural pagamento pelos produtos e serviços e um eventual aporte de capital, a empresa detentora do programa de inovação aberta oferece seus conhecimentos empresariais e toda sorte de mentorias para apoiar o crescimento estruturado da startup parceira, aliás, uma sócia potencial caso venha a se interessar e tenha capacidade de atrair investimentos.

Apesar do considerável domínio do tema da inovação aberta por boa parte das organizações mais avançadas, a assimilação interna do real valor para o negócio no mais das vezes se mantém restrita àqueles mais diretamente envolvidos com os programas de inovação e de investimentos corporativos de risco. Não é incomum notar certa tensão entre equipes engajadas nos programas de inovação e as demais, preocupadas em operar a empresa na sua rotina habitual.

Enquanto isso, o mercado de capital de risco anda aquecido. Até o final de outubro de 2021, as startups brasileiras receberam aportes que ultrapassaram os 8 bilhões de dólares em 614 rodadas de negociações. Este volume é 120% maior do que o total do ano anterior. Quando comparado ao volume recebido pelas startups em outubro de 2020, os 779 milhões de dólares captados em outubro de 2021 representam um aumento superior a 100%, ou seja, mais que o dobro.

Atualmente, inovação não é somente um grande diferencial competitivo, mas, ela própria, se tornou um grande negócio. No limite, inovar é uma questão de sobrevivência. Assim, não basta incorporar processos que tornam a empresa potencialmente mais inovadora. Hoje é preciso assimilar internamente uma nova mentalidade, em parte inspirada pelas metodologias ágeis, influenciada pela mentalidade empreendedora das startups, e pelo venture capital. De tal modo que a grande empresa ideal deve transformar cada integrante em um empreendedor com visão de futuro e, ao mesmo tempo, em um pequeno investidor de negócios de risco. Sem que ele negligencie as inúmeras atividades que mantêm o sustento do negócio.

Referências

CHESBROUGH, Henry (2011). Inovação Aberta: como criar e lucrar com tecnologia. São Paulo: Bookman.

CHRISTENSEN, Clayton (2011). O Dilema da Inovação. São Paulo: M Books.

MCGRAW, Thomas (2012). O Profeta da Inovação. Rio de Janeiro: Record.

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